quarta-feira, 13 de abril de 2011

Infância perdida



No último 7 de abril o Brasil acordou em mais um dia normal, alguns indo trabalhar, outros indo estudar, até que por volta de 8h30, ocorreu um fato inédito que deixou o país inteiro paralisado, por assim dizer, ao ver a notícia de um massacre que ocorrera no Rio de Janeiro, onde um rapaz de 23 anos invadiu uma escola e abriu fogo contra várias crianças inocentes e indefesas. Nesse dia várias dúvidas surgiram nas cabeças da massa: O que se passava na cabeça desse rapaz? O que leva alguém a ter esse tipo de atitude? Além, claro, da indignação e sentimento de raiva, naturais do ser humano em situações como essa. Porém, existe algo a mais que poderia ter passado por essas cabeças?

Só no Brasil, por ano, morrem aproximadamente 30.000 pessoas só pelo tráfico de drogas, dentre esses está, uma significativa, e muito significativa parcela de crianças. Seja por envolvimento direto, por vontade própria(que dizer isso por si só já é uma hipocrisia. Ora, se uma criança não tem vontade própria diante a lei, porque quando morre no tráfico a polícia justifica que entrou por vontade própria?) , seja por falta de opção, seja por abandono dos pais, seja por bala perdida, ou por uma falta de criação decente que realmente mostrasse o certo e o errado, e o mundo de oportunidades que uma criança, independentemente de ser ou não favelada, pode ter.

Além dessas crianças, o “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2004”, relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), divulgado no dia 8 de dezembro, concluiu que morrem de fome, anualmente, pelo menos 5 milhões de crianças no mundo, o que dá uma média de um óbito a cada 5 segundos. Ou seja, desde que você começou a ler este parágrafo já morreram duas crianças de fome, pelo menos. Mais de vinte milhões de crianças nascem com o peso abaixo dos padrões mínimos, correndo maior risco de morte durante a infância.

Mais 20 mil crianças morrem por ano em conseqüência da falta de saneamento, só na América Latina. Mais 1,5 milhão de crianças morrem, também por ano, no resto do mundo por falta de acesso à água potável e ao saneamento.

O que todos esses dados nos mostram? o quanto nós somos cegos. Cegos por não enxergarmos o que está perto de nós, e só enxergar o que a mídia nos mostra. Não estou aqui, de forma alguma, desmerecendo a atenção desviada pra esse massacre do Rio de Janeiro, eu também tive meus momentos de reflexão sobre o quão brutal deve ter sido para as famílias, mas, senhores, o que estas crianças que morrem de fome, que morrem de sede tem de diferente das pobres criancinhas do Realengo? Uma morte mais dolorosa e mais lenta talvez.Quantos de nós ja ajudamos entidades que cuidam dessas crianças carentes? Geralmente quando lemos essas estatísticas, logo pensamos que só ocorrem nos países mais pobres, em outros continentes, e esquecemos que aqui, bem perto da gente, tem gente que também passa fome, e que, tanto quanto as criancinhas do Rio, sonhavam com um futuro digno... Isso pra não citar as que necessitam de atenção psiquiátrica pra que não se tornem outros monstros, como o autor do massacre.



Fontes: Unicef,OMS e FAO